sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Aqueles medos

Tenho medo da lipodistrofia, da lipoatrofia, do envelhecimento celular, de que os remédios parem de funcionar. Tudo muito paranóia, eu bem sei. Mas...

Agora tenho ido ao médico praticamente de seis em seis meses. A impressão de que sou completamente saudável, e me lembro pouquíssimas vezes durante a semana que eu tenho o vírus mais temido do mundo.

Na verdade, talvez, eu me lembro mais vezes. Mas é que lembrar disso não me incomoda mais tanto quanto quando eu me descobri soropositivo. Não me incomoda quase nada.

Só o medo (olha o ciclo!) de pensar em lipodistrofia, lipoatrofia, envelhecimento celular...

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Raso

Ando bem.

O médico passa exames de seis em seis meses. Receita para a medicação também com a mesma duração.

Muito anda se falando sobre cura em vista. Eu duvido: o pouco que li desde meu diagnóstico me faz crer que de tempos em tempos aparecem matérias e estudos sobre isso. Fora os textos que as pessoas desenterram e repassam como se fossem novidade.

Estou bem.

Esperando ainda por remédios que sejam menos agressivos para meu organismo. Mesmo que eu não sinta efeitos colaterais imediatos, sei que a longo prazo a coisa é toda outra.

Ah, o médico pediu um exame de vitamina "D". Acho até que já comentei sobre isso aqui (tem tempo que eu não acesso). Fiz e o resultado é que, como de se esperar (comum isso em soropositivos) eu estou com deficiência nisso. Complexos vitamínicos resolvem (mais coisa pra ingerir ¬¬).

Vou bem.

Cada vez mais percebo ou lembro menos que tenho HIV/AIDS. Incrível como a vida continua. É um perigo, né? Por isso tanta gente realmente não faz questão do preservativo. Pra fechar o mês... contenham-se, pessoas. Cuidem-se. Tudo numa boa, mas tenho.

Estarei melhor.

domingo, 10 de junho de 2012

Padre (ou " Um Dia , Dois Pais ")

Hoje recebi a visita do meu pai. É incrível como o vejo como um ídolo, mesmo tendo os anos se passado e a maturidade me trazido a lucidez pra perceber que ele é falível, de carne e osso, humano.

Enquanto conversávamos durante o jogo do Vasco, transmitido pela TV, o seu telefone tocou. Era sua atual esposa. Me retirei da sala e fui para a cozinha, mas podia ouvir o que ele falava. A conversa durou uns 10 minutos e durante várias vezes ele me usava como exemplo de honestidade, retidão, caráter, e sei lá mais o quê. Eu gelei.

Será mesmo? Digo, será que ele me vê da forma que "me narrou"? E essa visão seria alterada caso ele soubesse que eu sou soropositivo? No nosso mundo perfeito, divórcio é comum, drogas de todos os naipes são utilizadas pelos filhos dos nossos conhecidos, violência urbana aflige uma boa parcela de pessoas do nosso convívio... mas... AIDS? HIV? Não existe.

Às vezes dá vontade de gritar para o mundo inteiro "pronto, tá ok! Sou soropositivo! Aidético! Vamos lutar por essa causa!" - mas daí, logo eu volto a por os pés no chão. Vide a reação das pessoas quanto à parada gay de São Paulo - SP que aconteceu hoje. Li várias críticas negativas nos principais jornais do país. Parece que as pessoas estão realmente criando muros, divisas. De um lado, os gays, do outro, o resto do mundo. Um gay soropositivo deve representar para "o resto do mundo" toda a podridão da vida gay.

Pelo que parece, não muito diferente da época do falecimento de Cazuza e Renato Russo, as pessoas ainda veem o HIV como um castigo. Não temos a piedade e compreensão que um doente de câncer possui. Mesmo que esse câncer seja oriundo de um péssimo hábito (como o câncer de pulmão em um fumante crônico). Não é uma merda? Falto escutar um "bem feito! Quem mandou? Vai mais!", seguido de um "morra, veado!".

Meu pai provavelmente passaria por situações pesadas se eu me escancarasse para a sociedade. Imagino a reação das pessoas que o conhecem. Muitas o tratariam mal. Ele, certeza, não gostaria de saber disso. Mas me apoiaria, sim. A base da nossa relação é amor e respeito. Por mais que isso seja uma decepção ou algo nesse sentido.

Oh, pai... estamos em 2012. Longe, distantes, parece, de uma cura. A cura para a ignorância. Outra feita, os remédios têm me mantido muito bem.

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Atualizando (18/06):

Os exames estão ok: carga viral indetectável, CD4 estável e bonitinho. Só o exame de Vitamina D que está um pouco abaixo do esperado. Já tomando as vitaminas que vão me deixar 100%.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

... e toca a remar!

Depois de uma gripe de uma semana e, provavelmente, uma crise de sinusite, eis que chega a semana dos exames.

Creio que minha imunidade esteja no chão. Mas... é colher o sangue e esperar os resultados.

Temi que fosse dengue. Ou laringite. Ou faringite. Ou tudo junto.

Uma das partes ruins também de estar com HIV é justamente essa: qualquer doença ou mal estar te assusta um bocado.

Todo caso, vacinado contra gripe versão 2012.

Mais notícias em breve (com os resultados dos exames).

sábado, 14 de abril de 2012

Tem, mas acabou...

Parece que esse ano vou ficar sem tomar a vacina contra gripe novamente. Motivo: horário de funcionamento do posto de vacinação.

Em 2011 fiquei sem porque a vacina demorou a chegar e meu saco estourou antes que isso acontecesse. O que se deu foi que eu compareci ao raio do posto de vacinação (fazendo algo que eu ainda não gosto: dizendo que sou soropositivo) várias vezes e nunca tinham a vacina.

Esse ano a coisa parece ter piorado: cheguei lá e me deparei com uma placa onde se lia "horário de atendimento é das 9 as 11h e das 13 as 15h.

Vamos ser francos... quem diabos, pessoa que trabalha, tem a mínima possibilidade de comparecer num desses horários? Fora o "ânimo" dos funcionários típicos e clássicos desse tipo de instituição.... é foda...

quarta-feira, 28 de março de 2012

Nova Cuba / Velha Espanha

Cuba, há uns dias, anunciou estar mais próxima de criar uma vacina.

Não me empolgo muito. Meu médico, inclusive, diz para não criar expectativas. Que um dia a cura será inventada. Que até lá, eu viva intensamente a tranquilidade que o coquetel me assegura.

Concordo.

A medicação tinha me deixado bastante instável esses dias. Mas agora já estou bem de novo. Pra falar a verdade, eu nunca sei... as turbulências todas, desde o início da medicação, são uma incógnita sempre. Não dá pra distinguir o que é efeito do remédio do que é coisa da minha cabeça.

Depressão, quando acontece, pode ser o remédio, podem ser os problemas da vida, pode ser a combinação de tudo... pode ser até o não-suportar da realidade + o coquetel.

Ultimamente, ser soropositivo tem me feito pensar apenas em duas coisas: hedonismo e caridade. Queria abandonar meu emprego e viver de viajar, fazer as coisas que eu gosto, aprender outras tantas que eu nunca pude ou não tive tempo. Coisas que protelei por motivos sociais. Queria viver de ajudar, ensinar, e apaziguar.

De repente, tudo tem ficado sem muito sentido. Trabalhar perdeu a graça, a motivação. Que diferença eu, cidadão sexualmente inconstante, portador do vírus mais temido pela humanidade, habitante de um país em eterno desenvolvimento, faço nesse mundo extremamente preconceituoso e senil?

Não me bastaria ser um sinal de negativo, teria (TEM) que haver um sentido. Sinto falta dele. E nunca existiu um. Nem antes.

Porém... os dias têm me passado sem depressão. Minha ou do coquetel. :)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

HIV: ninguém fala, ninguém tem

De uns dias pra cá, muita dificuldade de me lembrar de fatos, dados, nomes, datas... será efeito do remédio? Será loucura? Tontura e dificuldade de concentração. Pensamento frenético. Que estranho... que estranho...

Hoje à tarde estive pensando sobre a quantidade imensa de lugares por onde passo e frequento. Provavelmente, nesses ambientes todos, eu seja a única pessoa soropositiva. Em meu serviço, nas festas de família, nas reuniões de amigos. Será? Óbvio que eu espero que sim. Mas é que com esse caso da tontura e falta de concentração me ocorreu que eu não tenho com quem contar.

Se eu recorro a minha família, terei que contar sobre minha situação. Não vão topar me levar a um médico ou me acompanhar como se fosse um "surto" leve. Se eu escolher um dos meus melhores amigos, terei que contar e tirá-lo de sua rotina para que ele desempenhe um papel que, geralmente, é delegado aos familiares. Fora o choque do "Ou, é o seguinte: estou com HIV e os remédios geralmente causam efeitos malucos. Dai não sei se o que estou sentindo é efeito colateral ou loucura mesmo". Imagine...

Estou preocupado... essa tontura nova, que dura o dia inteiro, depois de tanto tempo tomando o remédio... estranho... inquietante. O que faço?

Eu queria vir aqui no blog e falar sobre coisas mais alegres, bem menos dramáticas. Parece que se eu vier aqui e esvaziar um pouco, eu melhoro. Uma pena pra quem lê. Pois queria estar vivendo tranquilamente, sendo a prova viva de que soropositividade não altera tanto as coisas, num sentido mais amplo.

Como será que vivem os outros soropositivos todos?

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012

Ainda vivo. Vivo de modo torto. Mas ainda aqui, firme, forte, meio confiante, meio desconfiado.

Os remédios têm deixado minha carga viral indetectável aos exames. Meu CD4 (céluas de defesa) está subindo devagarinho. Dei uma envelhecida boa. Meu corpo está reagindo de formas estranhas, mas, ei!, e dai? Vamos nessa.

Cada vez mais tem sido mais fácil esquecer que eu tenho HIV. Mas eu tenho. E um dos colaterais dos remédios, é uma leve perturbação psicológica. Dai que fica foda (sem trocadilhos), saber o que de fato é uma cisma sem sentido ou o que realmente é oriundo da profilaxia. "Tipuquê"? Insônia, excesso de sono, perda de memória recente, mau humor, impaciência... tudo em ondas, em faixas.

"Eu me apaixono todo dia e é sempre a pessoa errada"

Ando tentando. Nem cogito contar de imediato. Decidido isso. O fato de "ninguém" saber às vezes mais maltrata do que alivia. Prefiro não me arriscar, todavia.

Incrível mesmo é como apenas dois anos após tomar conhecimento da minha sorologia, eu estou, certo modo, tranquilo com a coisa toda. O mundo não acabou ainda. Não como eu esperava. Descobri que são, na verdade, vários mundos. Um deles ruiu. Outros tantos se fizeram visíveis, uns até pela primeira vez. Outros tantos que ali estavam sem que eu os percebesse.

Às vezes sempre me achava vindo de outro mundo mesmo.