segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012

Ainda vivo. Vivo de modo torto. Mas ainda aqui, firme, forte, meio confiante, meio desconfiado.

Os remédios têm deixado minha carga viral indetectável aos exames. Meu CD4 (céluas de defesa) está subindo devagarinho. Dei uma envelhecida boa. Meu corpo está reagindo de formas estranhas, mas, ei!, e dai? Vamos nessa.

Cada vez mais tem sido mais fácil esquecer que eu tenho HIV. Mas eu tenho. E um dos colaterais dos remédios, é uma leve perturbação psicológica. Dai que fica foda (sem trocadilhos), saber o que de fato é uma cisma sem sentido ou o que realmente é oriundo da profilaxia. "Tipuquê"? Insônia, excesso de sono, perda de memória recente, mau humor, impaciência... tudo em ondas, em faixas.

"Eu me apaixono todo dia e é sempre a pessoa errada"

Ando tentando. Nem cogito contar de imediato. Decidido isso. O fato de "ninguém" saber às vezes mais maltrata do que alivia. Prefiro não me arriscar, todavia.

Incrível mesmo é como apenas dois anos após tomar conhecimento da minha sorologia, eu estou, certo modo, tranquilo com a coisa toda. O mundo não acabou ainda. Não como eu esperava. Descobri que são, na verdade, vários mundos. Um deles ruiu. Outros tantos se fizeram visíveis, uns até pela primeira vez. Outros tantos que ali estavam sem que eu os percebesse.

Às vezes sempre me achava vindo de outro mundo mesmo.