quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Sobrevivendo ao Efavirenz / Lamivudina / Tenofovir / Atripla / Coquetel / ARV / TARV

Fui levar meus exames no médico hoje. Imprimi uma papelada + um exame que o plano de saúde não cobriu. Uma pequena fortuna para analisarem meu sangue. Coisa de louco.

O médico, no meu último exame no final do semestre passado, sugeriu que talvez eu tivesse que mudar meu esquema de remédios. Haveria a possibilidade, depois de já esses anos todos, que meu rim estivesse sendo prejudicado. Culpa do Tenofovir. 

Teríamos chegado a um ponto onde eu me preocupo muito: conviver com o HIV deixa de ser uma coisa cotidiana, como escovar os dentes, e passa a ser algo abjeto. Algo com o qual me preocupo - como diz Fernanda Young - como quem sente um caroço de milho agarrado ao fundo da garganta. Tá muito ali pra gente fazer de conta que não tem nada acontecendo.

Levei meus exames impressos. Estou falando de meus exames desde 2009. Afinal, comprovamos que o penúltimo teste teve apenas uma leve alteração no nível de creatinina. Nada anormal. Nada que tivesse que fazer com que eu abandonasse o meu esquema de um comprimido por dia em troca de cinco revestidos diários.

Sim, a quantidade pesa. Não, nunca tomei mais de quatro por dia. Tá bom assim. Por mais que o médico faça piadinha subliminares me chamando de "viúva do medicamento obsoleto". Nem é obsoleto. Só não quero mudar o esquema. Quero viver como quem não tem nada.

E agora, legalmente, é como se eu não tivesse nada, mon cher: carga viral indetectável passou a ser considerada como intransmissível. Não preciso mais, legalmente, me expor e correr o risco de ser processado por um louco oportunista. Se você pegar HIV, não foi de mim. Eu, além de usar preservativos, estou com minhas tabelas e medicamentos em dia. Assuma-se e confirme que pegou de outro alguém. E nem venha me passar dessa cepa pra tentar derrubar meu quadro que está lindo.

Juro: só quero que até 2025, muito tempo já, tenham descoberto uma cura. Ninguém vai precisar saber pelo que eu passei. A não ser que eu vire série, filme ou livro. Ainda assim, prefiro esquecer me tive que me manter incógnito e anônimo por esse tempo todo. Pragas do preconceito. 

Só queria minha vida e minha saúde de volta. Será que eu teria envelhecido tanto se eu não tivesse passado por esse estresse e essa medicação? O quanto eu terei envelhecido por dentro? Ah, meus órgãos...

Nascimento de Cristo mais uma vez. Renasce. Feliz natal. Renasço?

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Up Close to Personal

Certas situações são mesmo íntimas e pessoais. 

Meu último namorado ficou a par da minha sorologia. Tenho quase certeza, depois de quase um ano pós término do namoro, que ele contou para outra pessoa, que contou para outra pessoa, que contou para outra pessoa, que...

Recentemente, estive conhecendo um rapaz (não sei precisar com exatidão se estamos juntos ainda ou não após a décima briga em questão de meses - dessa vez, com afastamento). O fato é que ele deu indícios de que "ouviu dizer" que eu poderia "ter algo". Omito. Vou continuar omitindo.

Meu médico uma vez me disse "ninguém precisa saber". Às vezes, é melhor ouvir a voz da experiência do que aquela voz que te manda falar sobre tudo como prova de honestidade e confiança. Honestamente? Tenho tomado a medicação religiosamente. Carga viral indetectável. Usamos preservativos sempre. Não consigo achar, depois da última confissão frustrada, que valha a pena. 

"Ah, mas e a paz consigo mesmo?" Essa paz, meu irmão, ela se vai da pior maneira quando seu segredo que te rende olhares tortos, desemprego e isolamento é exposto para completos desconhecidos.

Vale mesmo a pena? Eis a questão: se conto agora, assusto o rapaz. Se conto e ele não se assusta, vai que o namoro dura mais um mês e ele resolve espalhar por aí? Se espero uns meses para contar, ele vai se sentir traído, iludido, sacaneado. Omitir e prevenir - até porque sei lá eu por onde esse cara anda quando não está comigo, mesmo dizendo ser fiel - parece mesmo ser a melhor pedida sempre. Independente da sorologia de quem quer que seja.

Imagino que os possíveis leitores desse blog devam estar pensando "nossa, que mudança em apenas 8 anos! Cadê aquele homem responsável e preocupado?". Está aqui. Preocupado com o que pode vir a ser dele daqui mais 8 anos, se depender da maldade alheia. 

Sei que devo agir honestamente independente de como os outros ajam. Por ora, essa é a melhor precaução para ambos. Ou quem mais cruzar caminho. Aliás, devia ser essa (e foi) desde sempre. Aconteceu, infelizmente.

Talvez amanhã eu esteja com outro pensamento. Ou outra pessoa. Ou outro eu.