quinta-feira, 3 de maio de 2018

The Cure / A Cura

Hoje li (mais) uma matéria sobre a possível cura, que está prevista para até 2020.

Estou há quase 10 anos convivendo com o vírus. Li muitas matérias dessas, de estudos que estão "quase lá", que são muito promissores, que tratam de descobertas sobre como o vírus funciona/reage aos novos medicamentos e coquetéis... 

Há testes feitos em ratos, em macacos e em seres humanos. São Paulo, França, Cuba, Estados Unidos, Austrália. Cada vez a notícia vem de algum lugar diferente. Não raramente, os veículos que divulgam essas novidades não são muito conhecidos, ou não são muito confiáveis.

Não vivo procurando essas matérias, nem estou deixando de viver para ficar me preocupando com a cura que (ainda) não chegou. Mesmo que a descubram até 2020, como está acordado como tentativa entre alguns países, muito provavelmente vai levar um tempo até que eles comecem a tratar as pessoas. Esperei 10 anos. Espero mais 20.

O que me incomoda, a longo prazo, são os efeitos da medicação que tomo.

Tenho sentido dores nas pernas e temo que possa ser neuropatia por conta do medicamento. As alterações de humor sempre vêm com a suspeita de que seja depressão e/ou ansiedade também por conta e/ou agravada pelo meu status sorológico. Sei lá até que ponto meu inconsciente está agindo quanto a isso tudo desde sempre.

Que bom, como já escrevi aqui uma vez, que existe remédio para gente. Mas seria ótimo que a cura chegasse (para quem vive bem como eu, e para quem sofre muito com esquemas mais pesados e complexos de medicação). Seria (ou "será"?) enfim a libertação de um crime que não cometemos.

Se por um lado, muita gente deixa de se prevenir atualmente por achar que "AIDS é igual diabetes: basta tomar um comprimido por dia e está tudo bem", é muito bizarro o quanto palavras como "HIV", "AIDS" e "soropositivo" suscitam preconceitos e reações em muitas pessoas. A desinformação sobre tudo (contágio, tratamento, convívio) é absurdamente imensa. Muita gente ainda está nos anos 80.

Quem se assume ainda paga um preço que eu considero alto demais por conta de algo tão... comum... eu acho. "Comum" é uma palavra interessante. Se as pessoas ao menos cogitassem quantas pessoas do convívio delas são soropositivas... talvez, apenas talvez, o preconceito fosse menor. Ou não, né? Os LGBTT têm tido cada vez mais visibilidade. No entanto, algumas pessoas parecem até hoje não se conformar com a existência dessas pessoas sendo o que elas são. Imagina quanto a um vírus que muita gente ainda enxerga como punição, castigo.

Para certas coisas, parece, a cura está bem distante.