Estou namorando. É a primeira vez em muitos anos, então tem sido... diferente.
A princípio, apaixonadíssimo. Depois de confirmado o namoro, e não mais apenas uma atração, um mix de sensações inexplicáveis. Umas boas, outras nem tanto. Houve desejo, insegurança, estranhamento, cumplicidade... e, por ora, tem fluído. Estamos bem.
Falei pra ele a respeito da minha sorologia e... ele aceitou hiper bem. Mais do que eu poderia imaginar. Desnecessário frisar que toda e qualquer atividade sexual nossa é cautelosa, mas sem neura, sem pressão sem "cuidado com isso, cuidado com aquilo". A verdade é que TODO MUNDO tem que transar assim desde sempre. A diferença aqui é que sabemos que um de nós tem o vírus. Quantas vezes uma pessoa mantém relações com um(a) completo(a) desconhecido(a) sem saber da sorologia dessa pessoa? Prevenção é algo muito importante sempre.
Sou de uma época onde as pessoas com HIV morriam. Ou viviam muito mal. Muito ainda precisa mudar, em especial na questão social, de aceitação e acolhimento mesmo. Mas a visão do meu namorado representa uma transformação gigantesca, um salto entre gerações. Muito provavelmente, tenho mais preconceitos quanto a isso do que ele. Vi Cazuza, Freddi Mercury, Sandra Brea, Thales Pan Chacon, Renato Russo e outros tantos irem embora de forma dramática e dolorosa. Isso marcou uma geração com medo, repulsa, terror. Todas aquelas cenas de pessoas raquíticas agonizando em macas de hospital, isoladas, muitas vezes abandonadas pelos amigos e parentes.
Levo uma vida normal. Até demais. Tão normal que quase não falo sobre HIV/AIDS. Nem com meu namorado. O que falar? Nos primeiros dias ele ficava fiscalizando se eu tinha tomado os remédios na hora certa. Não havia necessidade. Hoje, mal tocamos no assunto. Não por incomodo, mas por que a naturalidade é tamanha, que não vira assunto. Não se faz presente.
O sentimento de amor tem sido um remédio a mais. Apesar de não estar aceitando da forma que queria. Acho que os tais efeitos colaterais psicológicos da medicação atrapalham um pouco. Nunca os havia percebido, mas agora cogito que sempre estiveram por perto. Alterações de humor, impaciência e uma certa angústia. Ou será que sou eu colocando a culpa nos remédios? Como saber?
Sei que estou disposto. Eu tou tentando e querendo muito fazer com que dê certo. E espero voltar em breve - mais frequentemente, inclusive - com boas notícias.
Fica o resumo: existem sim as boas pessoas dispostas a conviver intimamente com portadores do vírus HIV. Que seja amor.
Agradeço ao belo, jovem e inteligente rapaz que tem me mostrado cores que eu havia esquecido e imagens que eu não conhecia. Meus contornos, retas e linhas tortas são mais marcantes com você por perto.