segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Nau Frágil

Sigo em vela, o vento que me esparrama lento os dias
Num mar seco
De areias brancas, finas, quentes e ásperas

A esperar, longas esperas
Perdi meu mapa, meu destino
Confundindo a proa, a prancha e o leme

A madeira do casco e o ranger do cais
Ruindo o mundo abaixo do meu mar
Desfaz o barco de sonhos abaixo de mim

Aos 17, acordado, lúcido, e prepotente
Jamais poderia mesmo em pesadelos
Cogitar que eu teria esse desfecho, sequer esse fim

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

É só por hoje, de novo...

Informações excessivas a estranhos novamente. Pois fui a um centro médico para tomar algumas das vacinas que o infectologista recomendou. O senhorzinho atendente ficou sabendo da minha sorologia, até porque tive que levar um exame meu que comprovasse tal. Conversamos então por uma meia hora sobre tudo: contágio, atitudes, pessoas que por ali passam e seus problemas. Tudo na base da "estimativa" ("por aqui passam 'x' pessoas por dia, 'y' tem HIV e mesmo assim continuam transando sem preservativo").

Tenho que admitir que ir a um centro de saúde público foi complicado. Cheio de pessoas, aquele tratamento cinco estrelas típico de um pronto-socorro gratuito. E o constante pensamento de que meu futuro será passar muito tempo frequentando esse tipo de ambiente, pegando filas, senhas, tendo que esperar muito tempo pra ser atendido, adaptando meus horários de trabalho aos horários que eles atendem.

Ultimamente tenho conseguido acordar e quase não pensar no fator HIV em minha vida. Mas todas as vezes que olho pra alguém e me interesso, basta a pessoa sorrir que eu logo penso "não posso destruir esse sorriso colocando um problemão na vida desse cara". Sinto-me responsável pela minha saúde e pela das pessoas que eu poderia colocar em risco. Não que se alguém contrair o vírus transando comigo esse alguém vá morrer imediatamente, mas só de imaginar eu sendo o "culpado" de fazer alguém passar pelo estresse do exame positivo, uma vida inteira se tratando, possíveis efeitos colaterais... é muita coisa.

Estar semi psicologicamente amparado por um psicólogo, de modo hiper informal, tem ajudado. e amigos, amigos, amigos.

Já quase de volta a parte que me cabe. Que é amparar os outros todos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Monocórdico

Lendo tanta coisa positiva. Mas mesmo a própria palavra, essa sendo positiva, me lembro de que sou positivo. Sem drama, isso.

Sou um sub-gueto e me aceito. Ou tento cada vez mais me aceitar.

Lamento apenas não ter tido muito tempo para as pessoas que eu amo, para as coisas que me agradam. E às vezes vivo como se eu estivesse ignorando o fato de que tenho o vírus. Daí é como se eu rejeitasse os pensamentos sobre a rotina que terei que viver num futuro.

Por enquanto, daqui por diante, não sei mais identificar em mim se eu era quem eu sou.

Tabalho sorrindo.