quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A cara no trabalho

Trabalhando a todo vapor. Chegando cedo, saindo tarde. O emprego virou o 1° lar. A casa, o colchão, o repouso, e, por vezes, uma refeição.

Eu jurava que ao ter HIV, eu priorizaria o viver, caminharia por uma praia no final da tarde, rascunhando minha futura biografia e desenhando gaivotas e coqueiros enquanto beberia uma água de coco... passando os pés de leve na areia molhada. QUAL O QUÊ...! (rs)

A vida tem sido uma correria, uma insanidade, e a isso chamamos de Terapia Ocupacional de Cada Dia.

De que adianta ler tantos textos que se baseam na letra de Epitáfio dos Titãs? Devia ter feito isso, devia ter feito aquilo outro... e não mudar nada, de fato?

Vambora dar um tchau para o patrão, fazer as malas e começar uma fase inédita? Nos textos parece tão fácil. O que falta? Coragem, Clarice. Coragem.

E mais um combo pipoca + refri enquanto assisto a mais um filme empolgante, olhos arregalados, embasbacado a delirar "uau! eu um dia faço isso".

domingo, 15 de agosto de 2010

Cansado, solitário e sorrindo

Sem (mais) dramas. É que ando sem muita paciência com o assunto. Porque tem sido como ter um irmão siamês que só fala de um mesmo assunto toda vez que você olha pro lado. E também porque minha meta de vida nunca foi enriquecer, viver luxuosamente ou algo parecido. Minha meta era simplificar o tal viver.

De todo modo, a carruagem segue, e os cães ladram. Eu sorrio porque estou vivo, ainda não comecei a tomar osARV's (e quando começar, vai ter que ser bom: garantirão minha vida), estou cercado de muitas pessoas que amo e algumas que me amam. Só que elas nem sabem, então quando eu fico com o cérebro/sentimentos/pensamentos cansados, eu fico meio irritado, sem muita paciência. Devem achar que estou louco, ou que eu mudei.

E, realmente, sou outro.

..:: ouvindo Pixies e Iron Maiden ::.. Pulando bastante pela casa inteira (rs)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Assim

Não que eu ache que eu tenha sido vítima. Não mais acho. Mas eu acho esquisito... acho tudo muito esquisito...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

(H)À sinceridade

Ao longo desses meses, conheci algumas pessoas. Digo, "caras". E sempre quando algum deles se anima ou tenta me iludir com algo que demonstre afeição, uma aproximação afetiva-emocional maior, eu travo. Instantaneamente me vem a lembrança de que estou com HIV. Paro e penso "porra, esse cara fantástico me aparece só agora???" rsrsrs

Não precisava mas vou mencionar que, logo em seguida, eu penso em mil táticas pra sumir do mapa. Se a coisa evolui, qualquer hora rola sexo e, mesmo que a gente vá com certeza usar preservativo, se eu passo o vírus pra alguém, o que restou do meu mundo em reconstrução vira pó. ¬¬ affs

Fora a coisa toda do segredo. Caraleo, como isso me consome. Se eu me envolver com algum desses caras, e ele me perguntar se está tudo bem eu vou dizer que sim. Mas no fundo estarei gritando em silêncio que não está tudo tão bem assim, que estou com o vírus mais temido do mundo passeando e se multiplicando pelas minhas veias e fibras. Não conseguiria mentir, acho.

Passei a vida inteira tentando ser o mais sincero, aberto, franco e honesto o possível :) . E não é que agora, para me preservar, o jeito vai ser não me envolver. Não vou conseguir lidar comigo mesmo. Namorar um cara e só no meio da coisa toda, passados dias já, contar a ele (e ele literalmente me matar) é muito pra minha vontade quase nata de ser sincero. ;)

Enquanto escrevo aqui, recebo um sms com frases espertas. Ele quer se aproximar. Meus ossos doem. Você entende?

domingo, 1 de agosto de 2010

Pause

Com muitas ideias e vontade de postar, mas sempre deixando de lado. Tentando levar uma vida e um pensamento "normal". Dai, não seria normal vir e lamentar (ou o oposto disso) sobre coisas que sequer estão acontecendo. Porque desde a descoberta da minha sorologia, nada mudou, nem muda(rá). A vida e tudo dentro ou fora dela segue o mesmo caminho.

Talvez quem ler isso, ou eu mesmo, vá pensar que é uma tática de sobrevivência, de aceitação, um enganar a mim mesmo. Talvez seja. Até porque nem eu mesmo sei o quanto disso é verdade.

As vidas seguem os mesmos caminhos. O mundo. A comida e a bebida que eu degusto têm o mesmo gosto (ou falta de). Comédias bobas me fazem rir (ou ficar irritado). E ficar isolado é uma maneira de estar em contato de novo com um grande número de pessoas.

Volta e meia eu fecho os meus olhos e volto ao tempo em que eu era adolescente. Tinha 14, 15, 16 anos. Não conhecia nenhuma pessoa que tivesse HIV. Achava, inclusive (e na época devia ser) um tanto quanto apocalíptico viver soropositivamente. Não cogitava o vírus de forma alguma, mesmo quando lia alguma reportagem a respeito. E era virgem.

Hoje, não só porque já conhecia algumas pessoas hiv+, mas também devido ao que abarco, é toda uma outra visão. Mas me irrita o pouquinho de piedade que às vezes tenho de mim mesmo, e não tenho para com as outras pessoas que conheço e têm o vírus. Não precisamos de piedade. Apoio e continuidade, sim.

Os remédios são agressivos, e a rotina de uma posologia diária, doença crônica, desgasta bastante. Mas é um viver. E nem sei se devemos aguardar uma cura. Eu digo que não deve haver uma espera, um "aguardar". Sabe-se lá quanto tempo de vida qualquer um tem até que a morte chegue. Independente da sorologia. Ninguém nunca aguarda nada para começar (ou continuar) a viver.

Um grande amigo que é mais inteligente, mais bonito e mais jovem que eu e já está na rotina dos remédios, está vivendo. Eu com toda minha suposta rusticidade e imbecilidade talvez tenha a mesma sorte.

E viva.