A matéria no Fantástico é... "fantástica". Somente.
Não, não sou pessimista. O fundo do poço ainda está longe. Digamos que, estando contaminado desde 2009, desde então eu vejo surgirem matérias assim praticamente a cada dois meses.
Um dos textos mais promissores e empolgantes que eu li, mencionava Cuba como o país que anunciaria a cura dali a um mês. Passaram-se bem uns quinzes meses e nada ainda.
Pelo que leio nas comunidades, blogs, fóruns e redes sociais, quem convive com o vírus há mais tempo que eu é ainda menos esperançoso ou digamos "mais cético". E nem estou falando sobre pessoas que adquiriram o status de "soropositivas" no começo da epidemia, nem de testemunhas presenciais do que foi tida como uma "colheita maldita", no final da década de 80, quando várias personalidades foram ceifadas prematuramente e/ou de modo brutal.
Não precisamos ver Cazuza cadavérico fazendo campanha pelo direito de estar vivo com HIV e ainda assim o fantasma do preconceito e do medo de morrer ainda está impregnado como estigma em quem se torna soropositivo (basta ler minhas primeiras postagens aqui no blog pra ter uma vaga noção do desespero que toma conta da gente nessa situação).
Meu médico me diz: "não se preocupe ou fique esperando a cura. Vá vivendo bem a sua vida com os remédios. Se um dia aparecer a cura, que bom. Se não, você vive até morrer de velho". Faz sentido.
Apesar de que o que eu gostaria mesmo é de não ter esse segredo. Nem ser visto como um coitado. Muito menos ser apedrejado, evitado, crucificado. É... só com a cura ou não tendo o vírus mesmo.
Eu me lembro muito pouco que eu tenho o vírus. Nem quando tomo religiosamente o coquetel antes de dormir. É tão involuntário já quanto o ato de escovar os dentes. Na semana que vem, entretanto, pago para fazer uns exames de rotina. Quando os atendentes do laboratório me atendem com uma piedade excessiva - como se me dar atenção fosse algo que os santificassem - eu me sinto sujo. Cortesia, bom atendimento, fazer o bem... até quando isso vai estar vinculado a uma situação de dó, de pena?
Pensando bem, mais uma vez dentre tantas, que bom que eu sou soropositivo. Aprendendo a prática difícil de tanta coisa que é moleza na teoria. Teoria essa que nós, seres humanos, vociferamos tanto, com tanta facilidade.
Estou mais vivo.
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