domingo, 30 de maio de 2010

Face 2 Face

Encarar o HIV em mim tem sido um problema. Se interrompo uma atividade rotineira durante o dia e me lembro que tenho o vírus, sinto como se fosse a primeira vez que eu me desse conta de tal fato. Bizarro, não? Negação? Sei lá. O susto que tomo em cada uma das 1.942 vezes que "fico sabendo" que estou com HIV num período de 24h tende a me cansar.

Por falar em fatos estranhos, essa noite tive um sonho no mínimo perturbador. Nele, meu pai, não sei como, descobria que sou soropositivo e com isso a tranquilidade familiar (e a minha suposta paz pessoal) se tornava uma coisa qualquer que beirava o infernal.

Sonhos à parte, recentemente tomei conhecimento de que um antigo rolinho também está com o vírus. Fiquei uns 5 anos sem vê-lo até que, num show de MPB no ano passado, por um acaso, nos encontramos. Eu não o reconhecí. Será que ele mudou tanto por causa dos remédios? Por causa do vírus?

O fato é que, com mais esse, são três pessoas que eu conheço pessoalmente e que estão na mesma condição que eu. Fico, obviamente, imaginando quantas mais das pessoas próximas não estão também assim. Real: somos todos homossexuais que levavam uma vida sexual divertida e interessante, por mais protegida e segura que pretendesse ser. Engrossamos estatísticas.

Há anos não se fala em grupo de risco, mas o tal comportamento de risco parece ser ainda maior no nosso grupo. Por mais que eu ainda esteja em dúvida se a "culpa" da coisa toda foi de uma afta ou de alguma ferida em minha mucosa bucal. E não é que eu me lembro mesmo de aftas? :/

Esperando o resultado de (mais) uns exames. Tudo leva tempo. Dai espero vir aqui e postar sobre temas mais amenos e positivos. Sem trocadilho.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Denver

Ainda devendo um exame. Mas a coleta só é feita num horário estritamente preciso, justo quando eu menos posso. Logo arranjo tempo.

Essa rotina de exames, pedidos de exames, laboratório, atendentes que não têm preparo para agir com naturalidade ao lidar com pacientes com HIV (por mais que o vírus já esteja por ai há mais de 20 anos), tudo isso é exaustivo. Impossível manter um sorriso numa fila, numa sala de espera, num consultório. Mas é pra manter a saúde, a vida. Sobrevive-se.

E sei também que nem posso dar um pio sequer. Não ainda: vai chegar o momento da medicação, e nem faço ideia de como meu corpo, meu organismo vai reagir. Ou seja, por enquanto as coisas estão sim muito boas.

Há ainda um pouco de paranóia. Peguei uma gripe leve esses dias e já fiquei imaginando o quanto dela não era por causa de baixa imunidade ou se havia alguma relação com o HIV. Daí, dias depois, um furúnculo na perna. Mais sinais de baixa imunidade?

Preguiçoso e ansioso pela próxima consulta com o infectologista.

sábado, 1 de maio de 2010

Nova Perspectiva

Vida corrida demais. E segundos exames. Peguei os resultados mas ainda não os levei ao infectologista. Alguns dados diferem levemente dos primeiros exames. Mas não imagino, devido aos números, terminologias e minha preguiça, se essa diferença é normal, boa ou ruim.

Passei uns dias meio pra baixo, imaginando que "vou morrer mesmo, então foda-se" e me encostando nessa desculpa pra simplesmente não me importar com uma série de fatos cotidianos que merecem sim a minha atenção.

Ok, todos vamos morrer um dia, com certeza, e ninguém deixa de cumprir com suas obrigações por conta disso (alguns deixam por motivos mais imbecis ainda ¬¬). Então voltei ao meu quase estado real/inconstante de sempre.

Mais recentemente, conheci um carinha que me parece ser hiper gente boa. PORÉM (comigo sempre parece ter um porém) quando estou com ele, só conversando mesmo porque ainda nem cogitamos trepar, não consigo parar de pensar que tenho HIV, que vou morrer primeiro que ele, que pode ser que eu o contamine e ele, com razão, passe a me odiar, a querer me matar! AFF!

E enquanto isso, enquanto eu fito o horizonte e tenho essa bad trip viral, ele está lá numa boa, falando sobre como foi o dia dele, numa tranquilidade que eu invejo por não ter mais. Ou nunca ter tido. Nem acho que terei.

Claro que meu dispositivo de defesa, que funciona para mim e por ele, já está ativado: inconscientemente comecei a procurar defeitos na coisa toda. Ele joga papel de bala, chiclete mascado, e outros lixinhos na rua. Ele tem preconceitos demais. Ele... ele... sei lá. Não quero encontrar alguém que um dia talvez me peça um exame ou veja meus remédios (que terei de tomar) e me pergunte do que se trata. Não quero dizer "tenho HIV" e ver a pessoa sair correndo depois de cuspir na minha cara e dizer "se eu tiver pego de você, você é um homem morto!"

Os remédios. Li de gente que tomou imediatamente após saber da condição H+. Li de gente que está há dois, três anos sem nunca ter precisado. Temo pelos efeitos colaterais, temo querer dar uma de Renato Manfredinni Júnior e simplesmente não tomar os medicamentos por escolha. Seria suícidio?

Requer pesquisa.

Obs: Tenho estado ausente de situações onde eu obrigatoriamente devia estar atuante. Tentando muito voltar a velha forma e retomar qualquer coisa. Juro que sim.