terça-feira, 24 de novembro de 2009

Bingo!

"HIV I e II: REAGENTE"

Frio assim. Escrito desse jeitinho, tudo em maiúsculas. Acessei o site do laboratório e lá estava. Não me ligaram, não mandaram mensagem, nada. Que bom, por um lado. Eu estava ensaiando uma peça teatral! Ia desmaiar quando me dissessem algo como "infelizmente seus exames deram positivo. Você tem "A AIDES!". Dai ia voltar pra casa chorando, dirigindo e enxugando as lágrimas com um lenço umidecido. Vergonhoso.

Começa a confirmação do fim, de que não sou imortal, de que a morte é algo distante. E, daqui por diante, as escolhas e decisões todas vão ter um peso imenso. Desde se "me trato ou não?" até "Hm, vou trepar ou não?".

Hoje, por coincidência, na brincadeira de amigo oculto do serviço, recebi um bilhetinho com um pacote de preservativo dentro. Profético? irônico?

Tenho sentido tonturas desde ontem. Sei que é meu cérebro tentando me defender, me "dopando". Podia parar: não há mais necessidade. Não estou irriquieto como estava quando cheguei em casa. Na verdade, não saí da frente do computador desde que cheguei. Creio que quando eu desligar, vou ter um colapso. Ou não. É tudo mesmo tão imprevisível.

Minha mãe está na sala, assistindo TV. De novo, sinto dentro de mim, desde antes da confirmação, uma vontade muito grande de contar a ela. Mas como não sei se isso é pra deixá-la a par ou se para afetá-la (sei lá porque) de alguma maneira.

Passei a tarde envolvido com o pensamento do suicídio. Sei que se eu me matar por conta disso, minha mãe não me perdoaria nunca. Acho que se eu contar sem me matar, ela não me perdoará, por mais que fique ao meu lado incondicionalmente. Fiz bobagem.

Penso assim: minha mãe nunca esteve nem muito por dentro do que é o mundo homossexual no qual vivo, e vivo pouco. Não tenho ideia do que ela acha. Só sei que me aceita e que NUNCA tocamos no assunto "mãe, eu sou gay". Ela sabe e só.

Agora, se ser um veado já é algo "underground", ser um veado contaminado com HIV deve ser o quê? Ainda posso me matar...

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