sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O Ser

Tem horas que eu me esqueço (de novo) que tenho HIV. Ou como prefiro dizer, tem horas que eu me esqueço que tenho AIDS (não vou entrar no detalhe da diferença).

Ah, mas quando eu me lembro...

Sempre desejei uma cura para a AIDS, desde que se fala disso em sala de aula, quando a gente era criança ainda. Mas acho que eu desejava como quem deseja a paz mundial, como as candidatas a miss desejam. Pensando "porra, paz mundial com o mundo de fome, guerra, sacanagem, putaria, jogatina, traição e malandragem em que nós vivemos?? piada!". Por ai...

Agora, preciso de uma cura. A idéia de um prazo de validade ou problemas sazonais, restrições, controles... tudo isso me desanima, mais do que desespera. Paz mundial, como a vejo, também é assim... algo distante, trabalhoso e que me tira o ânimo quando percebo o quanto falta. Mas não tem nem o estigma de um preconceito, nem me afeta o dia-a-dia tão diretamente e intensamente (de modo dramático) quanto a merda de uma AIDS.

Enfim... nem creio no prazo de validade. Nem acho que, daqui um tempo, quando eu tiver que tomar remédios, os medicamentos estejam melhores que os de hoje. Vive-se, parece, o ápice da coisa toda, onde os soropositivos são vistos como idiotas que se deixaram contaminar. Que aguentem. ÓBVIO que não quero ser visto assim.

Ademais, tenho um amigo pra tomar conta (dele). Uma vida pela frente. Continuar tentando ser uma pessoa boa para que isso simplesmente toque as pessoas, mude algo, faça alguma diferença. Mas é bizarro tentar continuar remando o barco e, toda vez que alguém me abraça, eu pensar "tá abraçando uma embalagem de veneno..."

Pior é o pensamento de que eu não transava sem camisinha. Sexo oral sem camisinha É sexo sem camisinha. Logo eu tão instruído, tão precavido... "logo eu"... piada.

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