sábado, 19 de dezembro de 2009

Saliva

Dias comuns. Muito envolvido com um projetinho pessoal, não estava sequer percebendo que o ano praticamente acaba nas próximas duas semanas.

Há momentos longos em que me esqueço completamente que tenho o vírus. E penso raso como fazia antes.Volto à realidade: não posso mais me dar ao luxo de perder tempo pensando raso. O planejar, o preparar, era algo que não fazia parte da minha vida. Agora, VAI TER QUE SER.

Nunca consegui me imaginar no futuro. Ou imaginar meu futuro, digamos assim. O certo é que uma coisa eu sentia sempre... "futuro? eu sozinho, tomando conta de mim". Isso era quase uma constatação automatica, algo que eu sentia. Agora vem o medo. Pois se imagino uma vida saudável (garantia que ninguém tem, pois vai que tu perdes as pernas ou fica tetraplégico numa merda de acidente qualquer?), imagino essa vida saudável sem depender da ajuda de outra pessoa. Já uma vida com AIDS... pelo menos alguém pra conversar a respeito, pra não enlouquecer.

É psicológico, eu sei, vão dizer... mas o psicológico deve ser responsável por grandes quedas de quem tem HIV. A notícia em si, os termos técnicos todos, a frieza com que certos "profissionais" da saúde te tratam, a mudança de rotina, a alteração que se tem de tempo, duração de vida, planos, projetos... enfim, TUDO passa pelo coador da mente. Às vezes filtra bem, às vezes ali fica impregnado de sujeira ("uma baba grossa e escura, essência do meu tormento"). E até ficar limpo de novo... ah, ai vão-se horas que duram dias, dias que duram semanas...

Procurando postar algo mais alegre. Talvez eu dê a entender que parei com a minha vida, quando na verdade tudo segue igual antes. Exceto pelo tudo e tanto que mudou :) Quero dizer que, obviamente ter que conviver com o vírus e com a idéia de "tenho AIDS" é um puta baque. Mas há os amigos, festas, risos, alegria, diversão.

Espero que a vida seja muito da mesma, maravilhosa como ela sempre me foi, até o dia que eu não viver mais.

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